sábado, 13 de setembro de 2014

Comparação entre o conto "Felicidade Clandestina" da escritora Clarice Lispector e o curta-metragem "Clandestina Felicidade" de Beto Normal e Marcelo Gomes

 

       Ao comparar o Conto “Felicidade Clandestina” de autoria da escritora Clarice Lispector com o curta-metragem brasileiro “Clandestina Felicidade” de Beto Normal e Marcelo Gomes percebe-se que as diferenças se acentuam logo no título das obras, embora ambos remetam a mesma temática. Tal inversão de palavras pode ser justificada pela alteração ocorrida na transposição da narrativa para o Curta conforme veremos nos próximos parágrafos.

      Entre essas mudanças, destaco o foco narrativo. O conto é narrado através do olhar de uma narradora-personagem, pois além de narrar os fatos, a menina participa das ações enquanto protagonista de sua própria história. Os diretores do curta-metragem não adotam o recurso do narrador-personagem. A obra cinematográfica explora os diálogos e as ações em torno da personagem principal Clarice. Os produtores apostam, ainda, na expressividade da atriz mirim Luisa Phebo a fim de transmitir as emoções descritas pela contista. 

       A escritora Clarice Lispector não nomeia as personagens do conto “Felicidade Clandestina.” O leitor identifica as por meio de características atribuídas pela narradora ou pela sua função social na história. O curta-metragem, por sua vez, apresenta uma versão biográfica da infância de Clarice Lispector. Tal releitura encontra respaldo em alguns elementos que remetem à infância da mesma. Como exemplos, destaco o cenário da narrativa Recife, capital de Pernambuco onde Clarice viveu sua infância, e também o fato da personagem-protagonista ser apaixonada por livros como a escritora. 

       A adaptação fílmica não é baseada somente na narrativa em estudo. A cena em que a personagem Clarice prepara-se para acompanhar uma marchinha de carnaval, por exemplo, faz menção ao conto “Restos de Carnaval” de mesma autoria. Portanto, os diretores apresentam um misto dos contos que resultam em algumas mudanças no enredo. Além disso, exibem recortes de passagens autobiográficas da vida da autora, ou seja, informações que não são apresentadas nas suas escritas ficcionais. 

      As duas produções em análise enfatizam a importância da leitura na vida de uma criança. Embora a produção cinematográfica tente demonstrar por meio de diálogos, ações e imagens a relevância que a leitura e a escrita tinham na vida da pequena Clarice, a obra literária cumpre o mesmo papel, porém com mais intensidade. Por mais que a obra fílmica tente reproduzir fielmente a produção escrita, dificilmente vai conseguir atingir os mesmos sentimentos de alegria, tristeza e raiva produzidos pela escolha poética das palavras. 

      Por fim, o livro, no conto, não é meramente uma reunião de folhas impressas e montadas por uma capa, mas, sim, a personificação de um amante. O livro passa da função de objeto para o papel de ser desejado e, sobretudo, amado. Tamanha sensibilidade não é possível representar se não por um conjunto de caracteres denominado palavras.

Conto disponível no seguinte site: http://intervox.nce.ufrj.br/~valdenit/felicida.htm