Não
tardará acenderão as luzes. Oficialmente, anunciando a noite. No
meu peito, o coração descompassado procura burburinhos de
alegrias. Algo que alimente essa ida silenciosa ofuscada por luzes embriagadas. Carros, motos, bicicletas passam e olham para o interior do
meu pranto. Adivinham minha má sorte. As trocas são cada vez mais
bruscas. O trânsito adquire o mesmo ritmo violento dos meus
pensamentos caóticos, desordenados, suplicantes.
Um
silêncio de morte chega para calar um ao outro. As palavras não tem
mais o poder de ferir e de matar. O silêncio se encarregou desta
ferida mortal. As lágrimas igualmente são mudas. Lavam as feridas
expostas com o sal do bálsamo da alma. A dor latente, aos poucos,
começa a amenizar os corpos cansados do duelo verbal.
Os
arrepios febrios sobem e descem pelo meu corpo numa dança frenética.
A pele, palco deste espetáculo, manifesta esse misto de sensações
contrárias. Dos pés sobe o frio polar e do coração desce o sangue borbulhante como lavas. Deste
encontro sombrio, resulta as manifestações da minha dor. Clamo pelo
dia, pela passagem das horas que tudo alívia, mas quem me atende é a
escuridão absoluta. Sem visibilidade nenhuma, busco um ponto de luz
perdido em algum lugar dentro de mim.
Olho pela
janela e percebo que as imagens são velhas conhecidas. Não tardará
para o motor desligar e dar a última partida. Os olhos ardem e as
luzes se misturam numa explosão confusa de cores e tamanhos. Elas
ofuscam meu horizonte. Meus imensos cílios negros e molhados permanecem
ancorados numa abandonada ilha de lágrimas salgadas.
Ana Paula Moraes
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