terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


       Não tardará acenderão as luzes. Oficialmente, anunciando a noite. No meu peito, o coração descompassado procura burburinhos de alegrias. Algo que alimente essa ida silenciosa ofuscada por luzes embriagadas. Carros, motos, bicicletas passam e olham para o interior do meu pranto. Adivinham minha má sorte. As trocas são cada vez mais bruscas. O trânsito adquire o mesmo ritmo violento dos meus pensamentos caóticos, desordenados, suplicantes.

       Um silêncio de morte chega para calar um ao outro. As palavras não tem mais o poder de ferir e de matar. O silêncio se encarregou desta ferida mortal. As lágrimas igualmente são mudas. Lavam as feridas expostas com o sal do bálsamo da alma. A dor latente, aos poucos, começa a amenizar os corpos cansados do duelo verbal.

       Os arrepios febrios sobem e descem pelo meu corpo numa dança frenética. A pele, palco deste espetáculo, manifesta esse misto de sensações contrárias. Dos pés sobe o frio polar e do coração desce o sangue borbulhante como lavas. Deste encontro sombrio, resulta as manifestações da minha dor. Clamo pelo dia, pela passagem das horas que tudo alívia, mas quem me atende é a escuridão absoluta. Sem visibilidade nenhuma, busco um ponto de luz perdido em algum lugar dentro de mim.

       Olho pela janela e percebo que as imagens são velhas conhecidas. Não tardará para o motor desligar e dar a última partida. Os olhos ardem e as luzes se misturam numa explosão confusa de cores e tamanhos. Elas ofuscam meu horizonte. Meus imensos cílios negros e molhados permanecem ancorados numa abandonada ilha de lágrimas salgadas. 
                                                Ana Paula Moraes

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