Grandes no sentido mais largo do termo, englobando não só a consistência e o eventual brilhantismo da obra, mas também um alto nível de reconhecimento popular (inclusive nacional) e de crítica. O que não tira um milímetro da importância dos demais escritores e escritoras de forte talento que aqui iniciaram ou desenvolveram, e desenvolvem, sua trajetória literária.
Por ordem cronológica de entrada na (minha) cena, aparece Erico Verissimo, o construtor dos amplos painéis sobre a formação histórica do povo riograndense. E um criador de personagens que amalgamaram em si traços presentes na cultura pampeana, devolvendo ao imaginário riograndense figuras símbolo, ainda que idealizadas, como o Capitão Rodrigo Cambará, Ana Terra e outros. Erico, nascido em dezembro de 1905 e falecido em novembro de 1975, foi também editor, tradutor, um homem de posições políticas e – até hoje – talvez ainda seja o autor gaúcho mais conhecido no Brasil e no mundo.
Contemporâneo e colega de Editora Globo, Mario Quintana foi o nome que sucedeu ao amigo Verissimo no gosto popular e no reconhecimento crítico. Um homem problemático e que teve sérios problemas com o alcoolismo, Quintana sem dúvida foi um poeta maior, com uma dicção muito própria, aliando uma aparente singeleza formal a um refinamento que esconde várias camadas de significado. Nos últimos anos de vida, foi transformado pela mídia (ou aceitou o papel) em um “bom velhinho”, adorado por crianças e professorinhas. Ao morrer, em 1994, amargava a derrota de seu sonho de tornar-se um “imortal” da Academia Brasileira de Letras, sufocado pela politicagem medíocre que envolve todo o processo de escolha. Mas para a poesia brasileira – e sem dúvida para os gaúchos – é um imortal.
E eis que seria Moacyr Scliar a concretizar o desejo de Quintana, ao ser eleito para a ABL em 2003. Um escritor prolífico, dotado de grande poder de comunicação em seus romances e contos, agregou um caráter ainda mais universal à literatura riograndense. Jogando com a ironia, com o melancólico e típico humor judaico, por vezes imerso no realismo fantástico, tendo como cenário mais freqüente o seu Bom Fim da infância, Scliar abordou grandes temas. Seus livros de contos e romances abriram-lhe as portas do reconhecimento em vários lugares do mundo, até porque apostava quase sempre na leveza – e no recurso das parábolas - para narrar o peso da violência, da culpa, da mentira ou para tratar da revolução.
O fenômeno de um grande nome por época, no sistema literário, talvez seja típico de culturas menos cosmopolitas. Na também regionalizada Bahia, João Ubaldo Ribeiro ocupou naturalmente o espaço deixado por Jorge Amado.
Fato é que a morte de Scliar, como toda a morte, deixa um vácuo. No caso dele, no cenário das letras. A julgar apenas pelo sucesso nacional e local de público e crítica, em especial a partir de seu trabalho como cronista de jornal (mas também romancista), Luis Fernando Verissimo teria todas as condições de ofício para bem ocupar este posto, informal e não oficial, mas concreto, de algum modo. No entanto, tudo indica que precisa existir no autor alguma disposição para encarar o “sucesso”, desde as filas de autógrafos, as muitas entrevistas, a badalação, a presença em atos e eventos oficiais e oficiosos. O filho de Erico é famoso não apenas pelo talento humorístico e a leveza e precisão de suas análises políticas e sociais, mas igualmente pelo laconismo e a timidez. Do mesmo modo, vivo fosse, me parece que jamais seria entronizado no lugar uma personalidade fugidia e outsider como a de Caio Fernando Abreu.
Por José Antônio Silva
Enfim, quem é hoje no RS a unir alto talento com amplo reconhecimento crítico e, principalmente, forte empatia popular?
Belo texto! Ainda hoje li uma página que a Veja dedicou ao escritor... um lixo! Só pra dizer que "falou da morte do cara"! Alguns escritores acima já receberam uma humilde homenagem minha em me blog, a última, é claro, foi para o Scliar =]
ResponderExcluirBeijos Ana!!!
Amo este poeta!!
ResponderExcluirUm grande incentivador da leitura!!
:)
Amo este poeta!!
ResponderExcluirUm grande incentivador da leitura!!
:)