O blog do curso de Letras da Unisinos postou este texto sobre o estilo de Machado de Assis. Foi o melhor texto que já li sobre a obra de Machado. Por isso, resolvi postar por aqui também. Como dizem por aí: Machado é tudo!
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Durante 40 anos, Machado escreveu crônicas. Utilizando-se de histórias do dia a dia, refletindo sobre a História que se desenhava à sua volta. Machado falou, sim, da escravidão, mas, não se utilizando do emocionalismo que caracterizava as manifestações abolicionistas, e sim, a análise, a reflexão, demolindo a ideia (muito comum na época) da “bondade dos brancos” ao libertar os negros. Em sua obra (crônica, conto, romance) procurou desvendar os mecanismos econômicos e ideológicos que tentavam justificar, primeiro, a necessidade do trabalho escravo e, depois, a contingência imperiosa da libertação. Em 13 de maio de 1888, foi assinada a Lei Áurea. No dia 19, do mesmo mês, Machado de Assis publicou uma crônica sobre o assunto, ironizando a “bondade dos brancos”.
Machado de Assis não passou largo dos grandes acontecimentos de seu tempo. É possível entrever, no registro do cotidiano feito por suas crônicas, assim como, posteriormente, nos romances, a ligação com o contexto social mais amplo.
Entre uma crônica e outra, entre uma crítica teatral e um poema, Machado de Assis ia tecendo a parte mais importante de sua obra: o conto e o romance
As fases
Passeou pelo Romantismo e pelo Realismo, assimilando características de ambos, mas, não se pode enquadrá-lo radicalmente em nenhum desses estilos. Pode-se dizer, a grosso modo, que os romances da primeira fase tendem ao Romantismo e os da segunda fase, ao Realismo.
Porém, nos romances de primeira fase, já se podem notar algumas novidades, sendo a principal delas, a criação de personagens que ambicionam, sobretudo, mudar de classe social, ainda que isso lhes custe sacrificar o amor, bem diferentemente dos romances românticos, em que os personagens, em geral, comportam-se de acordo com aquilo que lhes dita o coração.
Centrou seu interesse na sondagem psicológica, isto é, buscou compreender os mecanismos que comandam as ações humanas, sejam elas de natureza espiritual, ou decorrentes da ação que o meio social exerce sobre cada indivíduo. Tudo temperado com profunda reflexão. O escritor buscava inspiração nas ações rotineiras do homem. Penetrando na consciência das personagens para sondar-lhes o funcionamento, Machado mostrou, de maneira impiedosa e aguda, a vaidade, a futilidade, a hipocrisia, a ambição, a inveja, a inclinação ao adultério. Como este escritor capta sempre os impulsos contraditórios existentes em qualquer ser humano, torna-se difícil classificar suas personagens em boas ou más. Escolhendo suas personagens entre a burguesia que vive de acordo com o convencionalismo da época, Machado desmascara o jogo das relações sociais, enfatizando o contraste entre essência (o que as personagens são) e aparência (o que as personagens demonstram ser). O sucesso financeiro e social é, quase sempre, o objetivo último dessas personagens.
Preocupava-se muito mais com a análise das personagens do que com a ação. Por isso, em sua narrativas, pouca coisa “acontece”: há poucos fatos em suas histórias, e todos são ligados entre si por reflexões profundas. Outra característica da prosa machadiana é a análise que o autor faz da própria narrativa: o narrador rompe o envolvimento emocional do leitor com a obra, proporcionando momentos de reflexão sobre o que está lendo. A visão de mundo machadiana tem as seguintes características: o humor, com dois objetivos: ora visa criticar o ser humano e suas fraquezas, através da ironia, ora demonstrar compaixão pelo homem, fazendo o leitor refletir sobre a condição humana; o pessimismo, não o angustiado, nem o desesperador. Tende à ironia e propõe a aceitação do prazer relativo que a vida pode oferecer, já que a felicidade absoluta é inatingível. A natureza, considerada, aqui, como todas as forças que estabelecem e conservam a ordem do universo é, ao mesmo tempo, mãe, porque criou o ser humano, e inimiga, porque mantém-se impassível, diante do sofrimento, que só terá fim com a morte.
Quando a mulher, Carolina, morreu, em 1904, a vida de Machado de Assis desmoronou. Disse: Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...] Aqui me fico, por ora, na mesma casa, no mesmo aposento, com os mesmos adornos seus. Tudo me lembra a minha meiga Carolina. Como estou à beira do eterno aposento, não gastarei tempo em recordá-la. Irei vê-la, ela me esperará.
Carolina não teve de esperar mais do que quatro anos. Com a vista fraca, uma renitente infecção intestinal e uma úlcera na língua, em 1.º de agosto, Machado vai pela última vez à Academia Brasileira de Letras – que fundara em 1896 e da qual fora eleito presidente primeiro e perpétuo. Na madrugada de 29 de setembro de 1908, lúcido, recusando a presença de um padre para a extrema-unção, morre, reconhecido pelo público e pela crítica como um grande escritor.
Fonte: Excertos de http://www.culturabrasil.pro.br/machadodeassis.htm (2011)
Parabéns! Texto maravilhoso, culto, inteligentíssimo! Amei!
ResponderExcluirAdoreeeei! Parabéns.
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